Thursday, November 30, 2006
Friday, November 24, 2006
A máscara da noite -Vinicius de Moraes
Sim, essa tarde conhece todos os meus pensamentos
Todos os meus segredos e todos os meus patéticos anseios
Sob esse céu como uma visão azul de incenso
As estrelas são perfumes passados que me chegam...
Sim! essa tarde que eu não conheço é uma mulher que me chama
E eis que é uma cidade apenas, uma cidade dourada de astros
Aves, folhas silenciosas, sons perdidos em cores
Nuvens como velas abertas para o tempo...
Não sei, toda essa evocação perdida,
toda essa música perdidaÉ como um pressentimento de inocência, como um apelo...
Mas para que buscar se a forma ficou no gesto esvanecida
E se a poesia ficou dormindo nos braços de outrora...
Como saber se é tarde, se haverá manhã para o crepúsculo
Nesse entorpecimento, neste filtro mágico de lágrimas?
Orvalho, orvalho! desce sobre os meus olhos, sobre o meu sexo
Faz-se surgir diamante dentro do sol!
Lembro-me!... como se fosse a hora da memória
Outras tardes, outras janelas, outras criaturas na alma
O olhar abandonado de um lago e o frêmito de um vento
Seios crescendo para o poente como salmos...
Oh, a doce tarde! Sobre mares de gelo ardentes de revérbero
Vagam placidamente navios fantásticos de prata
E em grandes castelos cor de ouro, anjos azuis serenos
Tangem sinos de cristal que vibram na imensa transparência!
Eu sinto que essa tarde está me vendo,
que essa serenidade está me vendoQue o momento da criação está me vendo neste instante doloroso de sossego em mim mesmo
Oh criação que estás me vendo, surge e beija-me os olhos
Afaga-me os cabelos, canta uma canção para eu dormir!
És bem tu, máscara da noite, com tua carne rósea
Com teus longos xales campestres e com teus cânticos
És bem tu! ouço teus faunos pontilhando as águas de sons de flautas
Em longas escalas cromáticas fragrantes...
Ah, meu verso tem palpitações dulcíssimas! – primaveras!
Sonhos bucólicos nunca sonhados pelo desespero
Visões de rios plácidos e matas adormecidas
Sobre o panorama crucificado e monstruoso dos telhados!
Por que vens, noite? por que não adormeces o teu crepe
Por que não te esvais – espectro – nesse perfume tenro de rosas?
Deixa que a tarde envolva eternamente a face dos deuses
Noite, dolorosa noite, misteriosa noite!
Oh tarde, máscara da noite, tu és a presciência
Só tu conheces e acolhes todos os meus pensamentos
O teu céu, a tua luz, a tua calmaSão a palavra da morte e do sonho em mim!
Vinicius de Moraes
Rio de Janeiro, 1938in Novos Poemasin Antologia Poéticain Poesia completa e prosa: "A saudade do cotidiano"
Todos os meus segredos e todos os meus patéticos anseios
Sob esse céu como uma visão azul de incenso
As estrelas são perfumes passados que me chegam...
Sim! essa tarde que eu não conheço é uma mulher que me chama
E eis que é uma cidade apenas, uma cidade dourada de astros
Aves, folhas silenciosas, sons perdidos em cores
Nuvens como velas abertas para o tempo...
Não sei, toda essa evocação perdida,
toda essa música perdidaÉ como um pressentimento de inocência, como um apelo...
Mas para que buscar se a forma ficou no gesto esvanecida
E se a poesia ficou dormindo nos braços de outrora...
Como saber se é tarde, se haverá manhã para o crepúsculo
Nesse entorpecimento, neste filtro mágico de lágrimas?
Orvalho, orvalho! desce sobre os meus olhos, sobre o meu sexo
Faz-se surgir diamante dentro do sol!
Lembro-me!... como se fosse a hora da memória
Outras tardes, outras janelas, outras criaturas na alma
O olhar abandonado de um lago e o frêmito de um vento
Seios crescendo para o poente como salmos...
Oh, a doce tarde! Sobre mares de gelo ardentes de revérbero
Vagam placidamente navios fantásticos de prata
E em grandes castelos cor de ouro, anjos azuis serenos
Tangem sinos de cristal que vibram na imensa transparência!
Eu sinto que essa tarde está me vendo,
que essa serenidade está me vendoQue o momento da criação está me vendo neste instante doloroso de sossego em mim mesmo
Oh criação que estás me vendo, surge e beija-me os olhos
Afaga-me os cabelos, canta uma canção para eu dormir!
És bem tu, máscara da noite, com tua carne rósea
Com teus longos xales campestres e com teus cânticos
És bem tu! ouço teus faunos pontilhando as águas de sons de flautas
Em longas escalas cromáticas fragrantes...
Ah, meu verso tem palpitações dulcíssimas! – primaveras!
Sonhos bucólicos nunca sonhados pelo desespero
Visões de rios plácidos e matas adormecidas
Sobre o panorama crucificado e monstruoso dos telhados!
Por que vens, noite? por que não adormeces o teu crepe
Por que não te esvais – espectro – nesse perfume tenro de rosas?
Deixa que a tarde envolva eternamente a face dos deuses
Noite, dolorosa noite, misteriosa noite!
Oh tarde, máscara da noite, tu és a presciência
Só tu conheces e acolhes todos os meus pensamentos
O teu céu, a tua luz, a tua calmaSão a palavra da morte e do sonho em mim!
Vinicius de Moraes
Rio de Janeiro, 1938in Novos Poemasin Antologia Poéticain Poesia completa e prosa: "A saudade do cotidiano"
Conta-me um conto...
AS ASAS SÃO PARA VOAR
Era uma vez...
um pai para o seu filho quando este completou 18 anos:
- Filho, nós todos nascemos com asas, se bem que é certo que não tens obrigação de voar mas acho que seria uma pena limitares-te a caminhar tendo asas que o Bom Deus te deu.
-Mas eu não sei voar - Respondeu o filho
- é verdade- Disse o pai e caminhando levou-o até á beira do precipicio de uma montanha.
- Vês filho, Este é o vazio, quando quizeres voar, vens aqui, apanhas balanço, saltas no abismo e abrindo as asas voarás -Mas o Filho duvidou...
- E se cair?
- Ainda que caias não morrerás só farás alguns arranhões, que te farão mais forte para a seguinte tentativa!
O Filho voltou a cidade e encontrou-se com os seus amigos e companheiros, aqueles com os quais tinha caminhado a vida inteira. Os mais limitados dissera-lhe:
Estás louco? Para quê? O teu pai está a endoidecer para quê que alguem precisa voar? Porquê correr esse risco?
Por outro lado os amigos mais iluminados disseram-lhe:
- E se ele tiver razão? Não será perigoso? Porqur não começas devagar? Exprimenta atirar-te de uma escada ou do cimo de uma árvore... mas saltar do precipicio...??
O jovem escutou o conselho dos amigos. Subiu em cima de uma árvore e enchendo-se de coragem saltou, levantou as asas agitou-as no ar com toda a sua força mas desgraçadamente caiu em terra.
Com um grande galo na cabeça cruzou-se com o seu pai
- Mentiste-me eu não consigo voar .Exprimentei e olha o galo que fiz... Não sou como tu,as minhas asas só servem para enfeitar.
- Meu fIlho- Disse o pai
Para voar há que criar o espaço de ar necessario para que as asas se levantem,
é como atirar-se de um pára quedas necessitas de uma certa altura antes de saltar.
Para voar há que começar assumindo riscos.
se não estás disposto, quem sabe o melhor é resignares-te e continuar a caminhar para sempre... 24nov/06
Thursday, November 16, 2006
PENSAMENTO DO DIA...
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